sexta-feira, 29 de novembro de 2019

CONTO 24 - SAADI

Havia uma vez um rei que tinha um capelão que sempre o havia servido com lealdade. Certa vez, o rei desgostou-se com este capelão e o fez encarcerar.

Um príncipe, rival do rei, tomou conhecimento da prisão e fez chegar ao capelão um bilhete, oferecendo-lhe ajuda e um lugar na sua corte. O capelão lhe enviou sua resposta atrás do bilhete.

O rei soube desta comunicação e ordenou a seus guardas que interceptassem a mensagem, coisa que fizeram.

A resposta do capelão dizia assim: "Não é possível para este escravo aceitar a honra oferecida, porque não pode tratar com ingratidão a seu amo, somente por sua ligeira mudança de atitude para com ele. Por acaso não dizem: ‘desculpa se em toda uma vida te causa dano uma vez, àquele que tem te tratado com generosidade em cada momento'?".

O rei ficou tocado por esta gratidão, recompensou ao capelão e lhe pediu perdão, dizendo: "Tenho feito mal por castigar-te por nada". O capelão replicou: "Senhor, teu escravo não pode ver culpa alguma em ti por causa deste assunto; de fato, foi um decreto do Todo Poderoso que algo desagradável devia ocorrer ao Seu servo. Sendo assim, é melhor que o dano chegue através das tuas mãos, já que estou em dívida contigo por favores passados. Como dizem os sábios:
'Não te lamentes pelo prejuízo que te infligem os homens. Porque nem o gozo e nem a dor vem dos homens. Reconhece os atos de amigos e inimigos como provenientes de Deus. Porque todos tem seus corações sob o controle do Uno. Ainda que a flecha tome velocidade no arco, na realidade, provém do Arqueiro.'"
Extraído do conto 24, livro 1, do Gulistan.

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