“Temos uma casa de Deus, uma casa que não é feita com as mãos, e que é eterna nos céus” – disse o grande Iniciado cristão São Paulo, “porque neste (corpo) gememos, desejando ardentemente sermos providos com a nossa morada que está no céu.” Essa casa celeste é a que se constrói com os corpos imortais do Homem, a habitação do Espírito através de eras infinitas, a morada do próprio homem, através de nascimentos e mortes, através do incomensurável período de sua vida imortal em manifestação.
O Espírito, que é “o fruto de Deus”, reside sempre no seio do Pai, como verdadeiro filho de Deus, e compartilha a Sua vida eterna. Deus fez o homem para ser “a imagem da Sua própria eternidade”. A esse Espírito chamamos Mônada, porque é uma unidade, a verdadeira essência da Personalidade. A Mônada, quando desce para a matéria, a fim de conquistá-la e espiritualizá-la, apreende para si própria um átomo de cada um dos três mundos superiores, para deles fazer os núcleos dos seus três corpos superiores – o superespiritual, o espiritual e o intelectual. A esses corpos, com um fio de matéria espiritual (búdica), liga-se também uma partícula de cada um dos três mundos inferiores, núcleos dos seus três corpos inferiores.
Por longas, longas eras, ele paira sobre esses núcleos, enquanto seus futuros corpos mortais, apenas tocados com a sua vida, escalam vagarosamente a subida através dos reinos mineral, vegetal e animal, enquanto pequenas agregações da matéria dos três mundos superiores (a “morada de Deus... nos céus”) formam um canal para a sua vida, começando a manifestar-se naqueles mundos; e quando a forma animal atinge o ponto em que a vida que sobe faz um forte apelo ao superior, ele envia através dela, em resposta, uma pulsação de sua vida, e o corpo intelectual subitamente é completado, tal como a luz lança raios entre os carvões de um arco elétrico. O homem então está individualizado para a vida nos mundos inferiores.
O corpo superespiritual (átmico) é apenas um átomo desse mundo elevado, a mais fina película de matéria, encarnação do Espírito, “Deus feito carne”, num sentido muito real, divindade mergulhando no oceano da matéria, não menos divina por estar encarnada. Aos poucos, para esse corpo superespiritual passará o resultado puro de todas as experiências armazenadas durante a eternidade, e os dois corpos imortais inferiores irão aos poucos imergindo nele, misturando-se com ele, nas gloriosas vestes de um homem conscientemente divino, que se tornou perfeito.
O corpo espiritual (búdico) pertence ao segundo mundo manifestado, o mundo da pura sabedoria espiritual, do conhecimento e do amor reunidos, às vezes chamado o “corpo de Cristo”, pois ele nasce para a atividade na primeira grande Iniciação e se desenvolve até “a plenitude da medida da estatura do Cristo” no Caminho da Santidade. Ele é alimentado com todas as aspirações elevadas e amorosas, pela pura compaixão e pela ternura e piedade que tudo envolvem.
O corpo intelectual (causal) é a mente superior, pela qual o homem lida com abstrações, com o que é “da natureza do conhecimento”, no qual ele conhece a verdade por intuição, não pelo raciocínio, pedindo por empréstimo à sua mente inferior métodos de raciocínio, apenas para estabelecer no mundo inferior verdades que ele conhece diretamente. Nesse corpo, o homem é chamado de Ego, e começa a compreender sua própria divindade. Ele se alimenta e se desenvolve com o pensamento abstrato, pela meditação tenaz, pela serenidade, pela submissão do intelecto ao serviço. Por natureza, ele é independente, pois é um instrumento de individualização, e deve crescer forte e se bastar a si mesmo, a fim de dar a necessária estabilidade ao sutil corpo espiritual com que está mesclado.
Esses são os corpos imortais do homem, não sujeitos ao nascimento nem à morte; eles é que proporcionam a memória contínua, que é a essência da individualidade; eles são a casa do tesouro de tudo quanto merece a imortalidade. Neles não pode entrar “nada do que macule”. Eles são o eterno lugar de morada do Espírito. Neles está realizada a promessa: “Eu morarei neles e caminharei neles.” Eles fazem da prece do Cristo uma realidade: “Que eles também possam ser um em Nós.” Eles confirmam o grito triunfante do hindu: “Eu sou Tu.”
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