Crueldade, opressão e miséria desempenham um importante papel na vida e nas atividades humanas. Em grande parte, a cobiça pelo poder é responsável por esse estado de coisas. A cobiça pelo poder freqüentemente está envolvida com o desejo de prazer e o proveito de vários tipos. Na tradição oriental, o desejo dessas três coisas – poder, prazer e riquezas – é considerado como fonte de sofrimento, de dor. A mente que anseia por algum ou todos eles está enredada e é levada a empreendimentos destrutivos, embora algumas vezes pareçam louváveis. Certas ações parecem dignas exteriormente mas, de fato, são vistas como baixas e corrompidas quando os motivos são analisados. O homem orgulha-se do grande conhecimento obtido em vários campos, mas pode-se perguntar quanto de sua busca de conhecimento representa o puro interesse pela verdade e quanto dele é adquirido para propósitos ulteriores com finalidade de dominar outros.
Enquanto muitas pessoas não houverem questionado os propósitos e a validade ética de buscar o conhecimento nas áreas mais usuais, haverá graves dúvidas a respeito do desejo de adquirir poderes psíquicos. Esses e o conhecimento do extra-sensório não são qualitativamente diferentes do conhecimento e do poder que o homem tem no nível físico. Aquele é uma extensão deste último, comparável, por exemplo, à extensão da visão através do uso de instrumentos como o microscópio e o telescópio. Assim, a clarividência, quando acurada e confiável, é uma extensão do campo da visão. Nem a visão através do microscópio ou do telescópio, nem a visão clarividente libertam o homem ou o auxiliam a tornar-se livre de motivos egoístas. Por outro lado, o amor ao poder e a cobiça por novas experiências levaram pessoas a adquirirem conhecimento no campo psíquico. Por isso, muitas advertências têm sido dadas contra a aquisição dos “siddhis” (poderes psíquicos) inferiores, enquanto ainda resta algo de impureza na mente.
A verdadeira meta espiritual é o estado de perfeita ausência de egoísmo. O homem espiritual é aquele que não existe nenhum toque de desejo de poder ou proveito pessoa. “Não para si mesmo, mas para o mundo em que vive.” Não busca dominar outros, nem ocupar uma posição de mando. Uma leitura de “As Cartas dos Mahatmas ao Sr. A. P. Sinnet” deixa claro que o Autor de uma delas está cheio de humildade e não se esforça para trazer a vontade de outrem á sua sujeição. Como HPB disse, todos os siddhis estão a serviço de tal homem e ele é, naturalmente, dotado de força interior. É uma força que busca servir e não pressionar ou subjugar.
A Sociedade Teosófica existe para ajudar a regeneração do homem, o que implica em compreensão da profunda harmonia e unidade subjacentes na existência e no significado da vida. Como foi dito antes, a extensão do conhecimento e, através dele, a obtenção de poder nos campos físico e psíquico, não produzem uma mudança radical na natureza do homem. Um mago, um clarividente ou um pesquisador no campo psíquico, é como qualquer outro homem, confuso e autocentrado. Suas ações não tendem a ser menos contraditórias ou mais generosas ou harmoniosas, porque ele obtém o conhecimento da Percepção Extra-Sensória, ou é hábil em produzir fenômenos.
O terceiro objetivo da Sociedade Teosófica (Investigar as leis inexplicadas da natureza e os poderes latentes no homem) é freqüentemente mal entendido. Pensa-se que a investigação do P. E. S., os fenômenos psíquicos e similares, são parte do trabalho a ser empreendido pela Sociedade. O significado desse objetivo, no entanto, deve ser considerado no contexto da razão de ser da própria Sociedade que é produzir uma mudança radical na humanidade, de um estado de egoísmo ao de absoluto altruísmo; de um estado de conflito e discórdia a um outro de compreensão da total harmonia e unidade. A busca, a pesquisa do P. E. S., a extensão das respostas visuais ou outras da pessoa numa área levemente maior é trivial do ponto de vista do sublime propósito colocado diante da Sociedade Teosófica, que requer descobertas num nível muito mais profundo do que o físico e o psíquico.
Nas profundezas da consciência humana jazem potencialidades as quais as pessoas nem sequer sonham. Essas florescem em plenitude nos homens liberados, que são perfeitos em amor, sabedoria e puro altruísmo. Aquele que está preocupado com a regeneração do gênero humano deve deixar o “poder”, que é puro amor e sabedoria, expandir-se, a fim de tornar-se um benfeitor no real sentido. Os poderes latentes no homem não podem ser adquiridos, porque a busca do poder é destrutiva e causa sofrimentos. Os poderes espirituais manifestam-se naturalmente à medida que a pessoa aprende a libertar-se do egoísmo com o qual tentou proteger-se a si mesma durante longas idades e muitas encarnações.
É importante, especialmente neste ponto crítico da história da humanidade, que os Membros da Sociedade Teosófica ocupem-se com os fundamentos, em lugar de se ocupar com o que não é importante do ponto de vista da transformação moral e espiritual. No universo existe uma infinidade de fatos que ainda são desconhecidos. Assim, poderíamos buscar interminavelmente os detalhes de informações passíveis de obtenção em diferentes níveis, mas que uma vez obtidas não tornam os que as buscam melhores. O mundo moderno oferece contínuo testemunho para o fato de que os acréscimos de conhecimento não têm criado um mundo melhor, talvez, pelo contrário, tenham criado mais problemas. O que é essencial não é mais informações, quer no campo físico como psíquico, mas um crescimento em amor e sabedoria, tranqüilidade e altruísmo, por cujo poder e virtude, a humanidade possa verdadeiramente redimir-se.
Radha Burnier é Presidente Internacional da Sociedade Teosófica
Tradução de Pedro R. M. Oliveira
Porto Alegre
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