Esse é um dos casos claros onde há grande semelhança entre os ensinamentos orientais contidos no Yoga e aqueles do Budismo. Neste texto, o grande yogue indianoSwami Sivananda (1887-1963) explica porque o desapego (do sânscrito, “vairagya”) é a mãe de todas as virtudes, “um pré-requisito essencial” — tese que se assemelha muito à Terceira Nobre Verdade de Siddharta Gautama, o Buda, “O sofrimento cessa quando o apego pelo desejo cessa“. O que só reforça a provável importância dessa virtude. O texto de Sivananda segue os moldes de outro discurso dele traduzido aqui, intitulado “Ninguém alcança felicidade verdadeira sem desapego (vairagya)“,
Segue o texto.
“A Essência de Vairagya“.
Por Sri Swami Sivananda.
“Sem desapego não pode haver nenhum progresso espiritual. No Vedanta é a única prática vital e fundamental. Se você tiver desapego, todas as outras virtudes virão por elas mesmas. O grande sábio Patanjali diz: ‘Abhyasavairagyabhyam tannirodhah‘, a mente é controlada pela meditação ou prática e Vairagya. Elas são as duas asas do aspirante para voar alto na realidade da Existência Imortal.
A mesma coisa também diz o Senhor Krishna: ‘Abhyasena tu Kaunteya, vairagyena cha grihyate’, a mente é controlada pela prática e ausência de paixão e intenso desapego. Pelo desapego, a mente se torna desapegada. Aquele que trabalha de modo desapegado não é vítima do Karma (ação). Por isso é dever do aspirante cultivar esta virtude, ou Sadhana-anka-Vairagya.
Vairagya é o oposto de Raga (apego). Vairagya é ausência de paixão. Vairagya é desapego. Vairagya é indiferença perante o desfruto sensual aqui e ali. É o segundo teim no Sadhana Chatushtaya-Viveka, Vairagya, Shadsampat e Mumukshutwa.
Vairagya nasce de Viveka, ou discriminação entre Nitya e Anitya (Eterno e não-eterno), Sat eAsat (Real e não-real), Tattwa e Atattwa (Essência e não-essência). Viveka vem através de serviço altruísta feito em várias encarnações e através de Puja e Aradhana (devoção ou adoração à Deus), e através de Graça de Deus. De Viveka nasce Vairagya. E dá força espiritual.
Um homem desapegado não tem atração pelo mundo material. Por isso o desapego é um valor supremo e inextinguível para os aspirantes espirituais. O desapego ajuda na concentração da mente (Samadhana) e gera um queimante Mumukshutwa, ou forte busca pela Liberação ou Emancipação.
Raga é apego aos objetos. Onde quer que haja um pequeno prazer, lá está Raga. Onde quer que haja dor, lá está o desgosto. Gosto e desgosto estão interligados. Raga-Dwesha é também uma das aflições importantes, segundo o grande sábio Patanjali. As cinco aflições são Avidya (ignorância), Asmita (egoísmo), Raga-Dwesha (atração e aversão) e Abhinivesha (atração pela vida). Primeiro, há ignorância, o Avidya original. Disso nasce o egoísmo, Asmita, e de Asmita nasce Raga-Dwesha, e de Raga-Dwesha, Abhinivesha, ou apego à vida.
(…)
Vairagya vem através de observação dos defeitos da vida sensual. O prazer sensual não é felicidade real. É ilusório, transitório, impermanente. Está misturado com a dor. Por isso, novamente, olhando os defeitos da vida sensual, nasce o desapego. Deveria ser reforçado através do estudo de livros espirituais, perguntas e respostas, Vichara (discriminação) e investigação.
O desapego deveria nascer da discriminação, da investigação e da análise. Através desses, a mente sai do desfrute sensual e se torna fina como uma teia e só então há desapego duradouro. Você terá que fazer investigações de novo e de novo. Viver sem roupas ou penitência externa não constitui desapego real. Desapego real deve vir da investigação, Vichara. Todos esses objetos materiais não nos dão felicidade duradoura. Ele nos levam à dor e ao pesar. Uma investigação profunda, repetida de novo e de novo ao longo de um grande tempo, produz desapego duradouro.”
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O texto em inglês completo está aqui.
Fonte: Dharmalog
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