terça-feira, 28 de julho de 2015

A QUESTÃO DA MEMÓRIA

A memória é simplesmente um poder inato nos seres racionais e até nos animais para reproduzir impressões passadas por meio de uma associação de idéias sugeridas principalmente por coisas objetivas ou por alguma impressão sobre nossos órgãos sensoriais externos. A memória é uma faculdade que depende inteiramente do funcionamento mais ou menos normal de nosso cérebro físico; a lembrança e a reprodução são os atributos e os servidores desta memória. Porém, a reminiscência é uma coisa totalmente diferente, O psicólogo moderno define a reminiscência como algo intermediário entre a memória e a reprodução "um processo consciente pelo qual se recordam os fatos passados, porém sem aquela referência completa e variada de objetos determinados caracterizados pela reprodução".

J. Locke, falando da reprodução e da lembrança, diz: "Quando uma idéia se oferece de novo à memória sem a influência do próprio objeto sobre os sensos externos é chamada lembrança; se a mente encontra uma idéia que atuará com trabalho e esforço, esta se chama reprodução".

Mas o próprio Locke deixa de nos dar uma definição clara da reminiscência, porque não é um atributo ou faculdade de nossa memória física, mas uma percepção intuitiva distinta e fora de nosso cérebro físico; uma percepção que ao ser posta em ação pelo conhecimento sempre presente de nosso Ego espiritual alcança e abarca aquelas visões consideradas anormais no homem (desde as pinturas inspiradas pelo gênio, até ao delírio e devaneios da febre e da própria loucura) classificadas pela ciência como inexistentes, exceto em nossa imaginação. O Ocultismo e a Teosofia consideram, todavia, a reminiscência a partir de um ponto de vista completamente distinto; para nós, a memória é física e passageira e depende das condições físicas do cérebro, proposição fundamental entre todos os professores mnemotécnica apoiados, além disso, pelas investigações de psicólogos modernos; porém a reminiscência é a memória da alma. Essa memória é a que dá a todos os seres humanos, compreendam ou não, a certeza de ter vivido anteriormente e a de ter de viver de novo...

Sustentamos juntamente com o professor W. Knight que a “ausência de memória de qualquer ato executado num estado prévio não poder ser argumento concludente contra a possibilidade de ter vivido no mesmo". E todo adversário de boa fé deverá convir com o que diz Butler em sua Conferência sobre filosofia platônica: "A idéia de extravagância que isto (a pré-existência) produz tem sua secreta origem nos preconceitos materialistas ou semi-materialistas". Sustentamos ainda que a memória, como a chamou Olimpiodoro, é simplesmente uma fantasia e a mais insegura das coisas em nós. Ammonio Saccas assegurava que a única faculdade no homem diretamente oposta à profecia ou visão no futuro, é a memória. Uma coisa é a memória e outra a mente ou pensamento, compreendei, posto que uma é máquina para arquivar, um registro que se quebra facilmente; os pensamentos são eternos e imperecíveis. Negar-vos-eis a crer na existência de certas coisas ou homens somente porque não foram vistos por vossos olhos físicos? Não é garantia suficiente da vida de Júlio César o testemunho coletivo de gerações passadas que o viram? Por que não se deveria levar em conta o mesmo testemunho dos sentidos psíquicos das massas?

Helena Petrovna Blavatsky, 
A Doutrina Teosófica.

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