Lembremo-nos de que temos dois Eus: o Eu Superior, nossa verdadeira identidade, nossa essência, e o nosso Eu Inferior, formado pela associação do Kama Manas. Durante nossa vida de vigília, o Eu Inferior, ou a personalidade é dominante. E o que acontece no sono e no sonho?
Podemos classificar dois tipos de sonhos: o sonho comum e o sonho real. Falemos primeiramente do sonho comum. Durante o sono, por necessidade de descanso do corpo físico, o Eu Inferior perde a sua vivacidade, e a ação combinada de Kamas e Alma Animal, Kama Manas, passa a ser puramente mecânica, e o que fica ativo neles é o instinto e não a razão, por força do sono.
Kama e Manas, trocam, então, impulsos elétricos com vários centros nervosos do corpo. O cérebro físico, dificilmente guarda impressão deles, por estar adormecido, e, assim, a memória armazena-as de forma caótica e sem sequência. Quando despertamos, essas impressões desaparecem gradualmente, assim como acontece com qualquer sombra passageira, que não tenha, em si, uma realidade básica e substancial. A função retentiva, do cérebro pode preservar essas impressões, se elas, embora caóticas e sem ordem, forem gravadas com força suficiente, mas a memória, ao despertar, só registra aquelas passageiras e distorcidas. Isto ocorre na maioria da lembrança dos sonhos. Como salientamos, esses são os chamados sonhos comuns. Vejamos agora os sonhos reais.
Durante o estado de sono, o nosso Eu Superior, o nosso Ego verdadeiro, ganha completa liberdade, pois seu carcereiro na vigília se encontra enfraquecido. Assim, ele, livre das amarras do Kama Manas, solta-se e vai viver a sua própria vida temporariamente, livre da prisão de carne. E o que acontece? Durante as horas de vigília, a voz do Eu Superior pode ou não chegar ao seu carcereiro, o Eu Inferior, sob a forma da “Voz da Consciência”. O processo inverso, nas horas de sono é muito mais difícil.
O Eu Superior, livre no sono, vivencia as imagens e visões do passado e do futuro, como se fossem do presente, e seu pensamento não é como o pensamento na vigília, isto é, imagens subjetivas em nosso processo cerebral, transitando, o tempo todo, no passado, no presente e projetando-se no futuro, mas são ações e atos vivos, fatos intensos, do presente. São realidades, assim como já eram, antes de haver a fala expressa através de som na história das primeiras humanidades.
Durante as primeiras humanidades, quando não havia ainda a fala expressa, os seres humanos tinham, em si, desenvolvido o poder de “Kryashakti”, a força misteriosa, que transforma imediatamente o pensamento em formas visíveis; e estas formas eram tão visíveis para o ser humano, como são hoje os objetos físicos para nós. Este era o estado do Eu Superior, livre, daqueles tempos em que ainda não havia, no homem, o Eu Inferior. Assim é o Eu Superior, quando resgata a sua liberdade de ser no sono.
Todos esses pensamentos do Eu Real são refletidos no cérebro de quem dorme, do mesmo modo que as sombras externas, esparsas refletem-se nas paredes de tela de um barraca, e o ocupante as vê, quando acorda. Assim, o homem pensa que sonhou tudo aquilo e sente como se tivesse “vivido algo”, quando, na verdade, é o pensamento ação do seu Eu Real, vivendo sua vida plena no sono, que ele palidamente percebeu. Isso, no início, porque, à medida que ele vai ficando completamente desperto, as suas lembranças distorcem-se e misturam-se com as imagens projetadas de seu cérebro físico sob a ação do mesmo estímulo físico, que o fez acordar.
(Extraído de um texto de Blavatsky, explicando os sonhos e publicado no The Theosophist)
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