segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Lei Hermética do Mentalismo e o Fim do Deus Religioso

As leis herméticas, descobertas há 5.000 anos, vêm sendo mais bem compreendidas com os avanços científicos e são uma chave para decodificar o todo.


por Marcos Villas Bôas

Por volta de 2.600 a.C, indivíduos muito sábios, provavelmente sacerdotes egípcios, ficaram conhecidos como Hermes Trimegisto.

Ao contrário do que se pensa, o descobridor das leis herméticas não foi uma única pessoa, mas um grupo que deixou dezenas de livros sobre teologia, filosofia, medicina e outros temas.

“Trimegisto” significa “o três vezes grande”, o que propõe a conclusão de que o grupo era composto por três grandes sábios. É quase consenso que um deles era Ihmotep, sumo sacerdote do templo de Rá e vizir do faraó Djoser.

As leis herméticas, ou princípios da filosofia hermética, são estudadas pelas mais diversas civilizações desde então, sendo a base, inclusive, da maçonaria, dos rosacruzes, dos alquimistas e de outros grupos de estudos esotéricos, ocultistas e espiritualistas. Os filósofos gregos, como Platão, também foram claramente influenciados pelas leis herméticas. 

O grande público, alheio a esses conhecimentos, o trata como místico e de interesse de alguns “lunáticos”, mas será que, se não houvesse vestígios históricos comprovando fatos, a constatação de personalidades importantes em torno deles e se os próprios conhecimentos não fossem de grande utilidade para a vida, haveria tantos sábios interessados neles ao longo de tanto tempo? 

O fato é que o conhecimento das leis herméticas, redigidas quase 5.000 anos atrás, continua atual e fazendo cada vez mais sentido à medida em que os humanos avançam. Neste texto inicial, trataremos da primeira lei ou princípio hermético: mentalismo, que diz o seguinte: “O todo é mente; o universo é mental.”

Diz-se hoje que o cosmo não é um único universo, mas multiversos. A ciência parece estar longe de decodificar uma porção de coisas. Muitas das teorias hoje aceitas na cosmologia datam de 10, 20 ou 50 anos, ou seja, muito do que era tido por verdade ao longo de milênios caiu ou avançou e muito do que é tido por verdade hoje deve cair ou avançar nas próximas décadas.  

Como este todo infinitamente complexo seria criado do nada, sem que alguma inteligência estivesse por trás disso? Como engenhosíssimos sistemas seriam criados todos interligados, seja no espaço, seja no corpo humano, sem que algum tipo de consciência, de inteligência, desenhasse tudo isso?

As filosofias esotéricas, ocultistas e espiritualistas mais avançadas não trabalham com a ideia muito presente nos últimos milênios de um Deus religioso, antropomórfico, do tipo de um homem velho e barbudo que precisa ser adorado e que pune. O criador, o grande arquiteto universal, ou qualquer outro nome que se dê, é compreendido como uma consciência onipotente, onisciente e onipresente.

Esse todo funciona de modo imensamente interconectado, surgindo daí diversas teorias, como a de Gaia. Qual seria a explicação para fatos em um lado do planeta gerarem efeitos do outro lado? Parece lógico que existe uma “máquina mental”, “engrenagens”, fazendo tudo funcionar.

As teorias do Big-Bang e da evolução, hoje comumente aceitas em termos científicos para efeitos de criação do cosmo e dos seres vivos, não explicam bem como uma explosão poderia gerar esse todo imensamente complexo e interconectado. O que existia antes da explosão? O que a desencadeou? Como surgiu o primeiro ser vivo? Todos evoluíram a partir dele? Há ainda inúmeras lacunas na ciência e muitas peças deverão ser substituídas ou desenvolvidas.   

A existência de uma consciência suprema já havia sido percebida por Hermes Trimegisto. Tudo é mente. Para não confundirmos “mente” e “consciência”, diferenciação já realizada em outros textos deste blog, definiremos aqui “mente” como o ego, a personalidade, e consciência como a essência inteligente, como o que está por trás da criação e do direcionamento das coisas.

O que a lei hermética chamava de mente, portanto, denomina-se aqui de consciência. Aquele que se chama de Deus, além de ser uma consciência suprema que tudo rege, também criou seres conscientes, partes dele, que são cocriadores. Toda consciência e, portanto, todo ser humano é um cocriador do todo.

A Física Quântica já comprovou e registrou na teoria onda-corpúsculo que todo átomo é composto de matéria e energia. Assim, os próprios seres vivos são matéria e energia. Enquanto energia, é bem possível que estejamos todos ligados por ondas, por vibração. Isso ajudaria a explicar a telepatia e vários outros fenômenos. Aquilo que as consciências emitem vibratoriamente molda, portanto, o mundo delas.

Pensamento é vibração e esta é onda energética, mas também é matéria, pois, como prescereve a lei hermética da polaridade, tudo advém dos mesmos elementos, constituindo-se mais como matéria ou mais como energia apenas pelos diferentes graus e manifestando-se mais como um ou outro a depender do observador. Então, os próprios pensamentos têm forma de matéria/energia.

Isso nada tem a ver com religião. As tradições religiosas, quase sempre interessadas em dominar o conhecimento, em se tornar a “verdadeira doutrina”, foram responsáveis muitas vezes por afastar a humanidade dos conhecimentos esotérico, ocultista e espiritualista. Também não se pode ser ingênuo a ponto de afirmar que esses conhecimentos não sejam repletos de exageros e equívocos, pois a tentativa e erro faz parte do processo de evolução do conhecimento.

É preciso ter muito cuidado para não confundir os novos conhecimentos que quebram paradigmas sedimentados, com crenças religiosas pautadas apenas em dogmas e achismos. Por outro lado, as religiões têm serventia para muitos que se afinizam com elas. Como tudo é vibração e afinidade, cada um vai se agregando onde se encontra, tornando-se um participante de determinado grupo.

Todos nós somos observadores e/ou participantes nos mais diversos acontecimentos, enuncia a Física Quântica e outras disciplinas. Tudo o que é observado é alterado, haja vista que aquilo entendido por cada um já é resultado das suas próprias percepções e depende da posição de observação em que se encontra, que não é necessariamente física, podendo mudar conforme os referenciais que cada um carrega, os quais serão determinantes para o tipo de observação realizada.

Com essa definição de observador, ele já é em si um participante no sentido de que interfere naquela realidade. A diferenciação de observador x participante fica resumida à ideia de que participante é quem perpetra o fato, praticando um comportamento mais evidente.   

A construção da realidade pelo observador está no plano da própria consciência, do subjetivismo de cada ser, assim como na emissão de “formas-pensamento” e, com elas, de vibrações. Nota-se aqui a participação tanto da consciência quanto da mente. Nesse ponto surgem as inúmeras ilusões do ego, que decorrem do modo como cada ser apreende o mundo a sua volta.

Quanto mais individualista, desconectada da consciência suprema, é a apreensão de realidade, mais ilusória ela será, pois, se há uma inteligência regendo tudo, é preciso se conectar a ela para construir ideias que façam sentido. Por tudo ser subjetivo e cocriado, dentre outras razões que abordaremos nos textos a respeito das demais leis, não existe verdade.

Como cocriamos a realidade, somos observadores que partem de referenciais e como não existem verdades, além de outras razões, apesar de respeitar muito as religiões e os religiosos, e de trabalhar em conjunto com eles, este autor prefere não adotar uma religião, pois elas, de um modo geral, pressupõem conhecer as verdades do mundo ou serem as grandes consoladoras prometidas, quase sempre em detrimento das demais, e terminam se tornando círculos fechados de conhecimento, com referenciais limitados.

Toda escola, doutrina ou corrente que não seja extremamente aberta, profunda conhecedora das demais e que não esteja em constante inter-relação com o todo já é uma limitação em si ao pleno progresso humano. Deste modo, para não se atravancar, quem opta por ser religioso poderia ser, ao menos, transreligioso: adepto de uma religião com a qual se identifica, mas em constante relação de aprendizado com todas as demais. A evolução humana levará tudo a ser "trans": transdisciplinar, transcultural etc.  

Se toda a construção da realidade depende da posição do observador, da perspectiva, do seu referencial, parece inegável que, quanto mais referenciais, mais ampla será a realidade criada. Tendo havido inúmeros mestres na humanidade, por que seguir ou estudar apenas um? Por que escolher apenas Buda e não estudar Jesus, e vice-versa? Por que estudar apenas Allan Kardec e deixar de lado Helena Blavatsky, Jiddu Krishnamurti, Osho ou mesmo Rubens Saraceni (médium que escreveu diversas obras da Umbanda Sagrada)?

Como dizia Osho, o Deus religioso, antropomórfico, criado por homens para controlar outros, precisa morrer para dar lugar a um Deus científico-filosófico, que passe pelos crivos do sentir, da intuição e da razão.

Nesse caso, o Espiritismo, que não foi codificado como religião tradicional por Kardec, mas assim ficou distorcido por parte do movimento espírita, tem uma definição de Deus muito próxima daquela de filosofias orientais, da Teosofia e dos que unem esses conhecimentos com a Física Quântica e outros temas tidos pelos céticos como mais sérios.

Essas ideias ficarão mais claras à medida em que avancemos sobre as demais leis herméticas. Para o bom observador que queira compreender a realidade com uma consciência aberta e se tornar mais uno com a consciência suprema, vale a pena se debruçar sobre todo o conhecimento razoável que existe desde Hermes Trimegisto até hoje. Há muito mais entre o céu e a terra que as nossas vãs filosofia, ciência e teologia possam imaginar.  


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