Por Adrian Vilas Bôas
Obter saúde, respirar melhor, relaxar, combater o estresse, entrar em forma são apenas conseqüências naturais da prática correta do Hatha Yoga, mas nenhum desses resultados são a sua meta. A prática do Yoga deve ser entendida como um caminho para o auto-conhecimento: o conhecimento sobre si mesmo, o entendimento e a percepção do Ser que realmente somos. Esse Ser, nossa verdadeira e essencial natureza, é plenitude, tranqüilidade, felicidade, harmonia, paz, e é também puro, imutável, infinito e eterno. O Yoga não vai nos transformar neste Ser, pois simplesmente já somos, sempre fomos e sempre seremos esse Ser. O Yoga apenas nos ensina a reconhecer o Ser que inevitavelmente somos.
O objetivo do Yoga é moksha, liberdade. O autoconhecimento (Brahmavidya) é a chave para nos libertar do sofrimento que a ignorância (avidya) sobre quem realmente somos nos faz sentir.
Todo tipo de sofrimento que sentimos (medo, raiva, insuficiência, tristeza, insatisfação, carência, etc.) é fruto dessa ignorância. O autoconhecimento nos liberta dos condicionamentos que nos amarram a desejos, pensamentos, palavras e ações reativas. O Yoga nos ensina a agir deliberadamente, de acordo com os valores universais, escolhendo nossas ações com a consciência do que é adequado e que deve ser feito (dharma), sem sermos escravos dos impulsos automáticos das emoções, dos nossos gostos e aversões. Aprendemos a agir com habilidade e atenção, fazendo aquilo que tem que ser feito da melhor forma possível, desapegando-nos dos resultados, renunciando aos frutos das nossas ações. Aprendemos a viver uma vida mais tranqüila, feliz, consciente e deliberada.
A iluminação é o reconhecimento. É nos reconhecermos como o Ser (brahman). O estado de Yoga é o estado natural do Ser. Enquanto yogis no caminho de auto-realização entramos e saímos deste estado. Assim é como nos diz o velho e sempre atual texto da Katha Upanishad: “Quando os cinco sentidos e a mente estão parados, e a própria razão descansa em silêncio, começa o caminho supremo. Esta firmeza calma dos sentidos chama-se Yoga. Mas deve-se estar atento, pois o Yoga vem e vai”.
Arrisco dizer que é relativamente fácil vivenciarmos este estado durante a meditação, em cima do tapetinho, ou quando contemplamos a natureza; difícil é se manter neste estado no cotidiano, nas relações que temos que viver na sociedade, no cumprimento das nossas responsabilidades (vyavahara).
O verdadeiro sádhana é quando procuramos aplicar na vida aquilo que estudamos e aprendemos em sala no tapetinho. Nosso desafio como yogi sincero é refletir a atitude de Yoga em cada coisa que fazemos, a cada segundo que vivemos. Do contrário, continuaremos sendo os mesmos tolos de sempre, longe da auto-realização.
Ao assumir a ocupação de instrutor de Yoga não significa que já somos sábios realizados. Ensinando aos outros também estamos repetindo para nós mesmos o ensinamento, pois precisamos estar ouvindo sempre, nos mantendo no trilho da senda e é assim que nos tornamos um meio de transmissão desta tradição (parámpará). Espera-se do instrutor que passemos adiante o ensinamento sem deturpações nem invencionices, com coerência, honestidade, clareza e sinceridade. O dharma do professor é buscar sua realização e ajudar os outros a se realizarem.
Meu amigo Tales Nunes sabiamente afirmou em seu livro, intitulado “O Yoga e o Ser”, que “o maior ato que se pode fazer a si próprio é a ajuda aos outros”. Nós, yogis, inclusive professores, não somos santos, nem pessoas perfeitas. Temos defeitos e erramos como qualquer ser humano. Mas o importante é que podemos despertar em nós o que temos de melhor, de mais útil aos outros e ao todo. Igualmente, cultivamos nos nossos alunos o que eles têm de mais sublime para oferecer ao bem comum, sendo esse um dos nossos papeis na sociedade.
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