Conheça a polêmica prática do magnetismo na França, terapia alternativa de cura com as mãos que divide opiniões mas desafia a Medicina com alguns resultados
A história da magnetizadora francesa Brigitte Grimm-Laforest é a de uma menina que, desde cedo, sabia que era diferente. “Minha família conta que, desde os quatro anos, eu queria cuidar das pessoas. Era o que eu dizia, mas não sabia como, nem o porquê. Eu queria cuidar”, explicou Brigitte à RFI em seu consultório situado no 9° distrito de Paris. “Para mim foi uma trajetória natural, lógica”, conta.
Em quatro décadas de atividade, Brigitte tem um dom, o de aliviar dores e sintomas de diversas patologias. Dom que a levou a fazer da prática sua profissão e se tornar presidente do Sindicato dos Magnetizadores da França. Um grupo seleto que conta com apenas 200 pessoas. "Difícil de entrar, mas fácil de sair", diz.
Tornar-se membro requer uma série de critérios. O futuro membro é objeto de uma investigação, um “pente fino” que envolve entrevistas com pacientes e verificação dos resultados e das práticas utilizadas, além do respeito ao código de ética do sindicato. Brigitte explica que o objetivo é lutar contra os charlatães, que, ela reconhece, são inúmeros. O sindicato é inclusive convocado com frequência pela polícia francesa, extraoficialmente, para ajudar a resolver casos de falsos curandeiros.
Por esse motivo também, obter a entrevista com a magnetizadora não foi uma tarefa das mais fáceis. Como se trata de práticas não reconhecidas cientificamente, esses terapeutas alternativos têm uma certa reticência em falar sobre sua atividade.
“Não é uma questão de fé”
Na França, os magnetizadores não têm nenhum vínculo religioso. Eles não precisam invocar almas do além e Brigitte nem mesmo sabia o que é o Espiritismo. A magnetizadora conta, aliás, que os resultados são os mesmos em um paciente totalmente cético. “Não é uma questão de fé”, diz. “Se a pessoa adere à prática, a sessão será mais fluida, mas não é uma condição para que a terapia funcione. Peço apenas ao paciente que seja “científico”. Que ele confie no que sente. Isso é que é importante.”
Nas consultas, em geral, o terapeuta usa apenas as mãos, que podem ou não tocar levemente o paciente. A terapia com um magnetizador, diz, também não substitui um tratamento médico ou o uso de medicamentos. Ela é complementar.
Se não é ciência, paranormalidade ou religião, o que é então o magnetismo? “Na minha interpretação, considero que, globalmente o magnetismo é uma energia vital e transmissível. Toda pessoa viva tem acesso à energia e às suas variações. Quando alguém é amigo da gente, por exemplo, há uma transferência positiva de energia", diz. "Na minha opinião, todo mundo pode fazer magnetismo. Mas nem todo mundo que aprende música vira Mozart ou aprende a cozinhar e se transforma no Bocuse. Isso existe em todos os níveis, inclusive nesse”, compara.
“Há um corporativismo da Medicina tradicional”, diz anestesista
O anestesista francês Jean-Jacques Charbonier, que atua na UTI junto a pacientes em coma ou à beira da morte, é um dos defensores da adoção desse tipo de prática nos hospitais franceses. O médico defende uma tese polêmica: a da existência de uma consciência depois da morte.
Autor de diversos livros sobre o tema e criticado pelos colegas, ele mesmo conta ter sido convocado várias vezes pelo Conselho de Medicina francês, que no entanto nunca o expulsou da ordem. O anestesista afirma que os magnetizadores são chamados com frequência nos hospitais públicos para aliviar dores de pacientes.
“Infelizmente na França esse é um assunto tabu, como é o caso de várias medicinas paralelas. Há um corporativismo do mundo da Medicina tradicional. Todas essas práticas deveriam complementar aquilo que fazemos no hospital. Constatamos a eficácia do magnetismo principalmente no setor de grandes queimados", declara. "Havia, em alguns hospitais, até mesmo listas de magnetizadores em plantão que vinham para aliviar a dor provocada pelas queimaduras. Constatamos que a terapia aliviava a dor mas também os tecidos se reconstituíam mais rapidamente”, diz.
Segundo ele, os magnetizadores são chamados “clandestinamente”. “Todas essas listas de plantão são escondidas. Infelizmente não é um tipo de Medicina que ainda é aceita na França”.
A RFI conversou com dois pacientes que passaram pela experiência, mas que preferiram não gravar entrevista. Eles afirmam que consulta foi benéfica. Dominique, 70 anos, por exemplo, sofre de lúpus, uma doença crônica autoimune que afeta o tecido conjuntivo e, no seu caso, atinge a pele. Segundo ela, suas lesões desapareceram depois das consultas. Prova de que talvez, em alguns casos, a eficácia do magnetismo, se não pode ser cientificamente comprovada, também não pode ser cientificamente negada.
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