segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A PONTE entre a CONSCIÊNCIA INFERIOR e a CONSCIÊNCIA SUPERIOR

"Esta viagem para o interior, ou para cima, como preferirmos descrevê-la, finalmente chega a um ponto em que é construído o Anthakarana, a ponte entre a conciencia inferior e a superior. 

Diz H. P. Blavastky que a verdadeira mente em nós, que essencialmente é consciência espiritual, não pode entrar em relacionamento direto com a personalidade, exceto através de seu reflexo, a inteligencia comum, inferior. 

'É, portanto, tarefa do Manas inferior, ou personalidade pensante, se ele deve fundir-se com seu Deus, o Ego Divino, dissipar e paralisar os Tanmãtras, ou propriedades de forma material... Isto é Kãma-Manas (pensamento influenciado pela paixão), ou o Eu inferior, o qual, iludido por uma noção de existência independente... Torna-se Ego-ísmo, ou eu egoísta'.¹⁹ 

Certamente um grande desenvolvimento de 'manas inferior' muitas vezes fechará as percepções mais elevadas. Diz ela ainda: 'Devido ao extraordinário crescimento do intelecto humano e do desenvolvimento em nossa época de manas no homem, seu rápido progresso paralisou as percepções espirituais. É à custa da sabedoria que o intelecto geralmente vive.'²⁰ 

Essa escadaria ou ponte (não importa a metáfora que preferimos usar) da consciência inferior ou comum para a consciência superior ou espiritual é descrita por vários videntes. São Paulo fala de 'véu' que será removido quando a vida de Cristo estiver pronta para se manifestar em nós. (II Coríntios, 3 e 4). Ele também fala do muro divino a ser demolido quando a consciência de Cristo surgir em nós. (Efésios, 2.14). (...)"

"(...) A escadaria é o uso, desenvolvimento e purificação progressiva da inteligência. H. P. B. diz-nos que, fazendo crescer os estados meditativos, as imagens empregadas vão se tornando cada vez mais simples e mais abrangentes, de modo que a mente ultrapassa completamente as imagens e atinge as chamadas regiões 'sem forma', embora, ainda diz ela, sem forma somente para os estados inferiores de consciência. 

Em Luz no Caminho²¹ também é descrita essa escadaria: 'Cada homem é para si próprio absolutamente o caminho, a verdade e a vida. Mas isso só se torna real quando ele domina firmemente sua total individualidade e, por força de sua vontade espiritual desperta, reconhece essa individualidade não como sendo ele próprio, mas como algo que com sofrimento criou para seu próprio uso e por meio do qual se propõe, à medida que seu crescimento lentamente desenvolve sua inteligência,  a alcançar a vida além da individualidade'. 

Dr. Alexis Carrel, em seu último livro publicado depois de sua morte, tem coisas de grande importância a dizer sobre aspectos sobrenaturais da vida. Ele afirma que o propósito da evolução da alma tem um objetivo ambicioso e espantoso: 'atingir o reino desconhecido que se estende além da ciência e da filosofia, o reino em cujo limiar o intelecto automaticamente se imobiliza. O espírito se ergue mais pelo sofrimento e desejo do que pelo intelecto; em certo ponto da jornada, ele deixa para trás o intelecto, pois seu peso é demasiado. Ele se reduz à essência da alma que é o amor. Sozinho, no meio da noite escura da razão, ele escapa ao tempo e ao espaço e, pelo processo que os próprios grandes místicos nunca conseguiram descrever, une-e ao inefável substrato das coisas. 

Esse caminho nos é destinado desde o começo da evolução. Pois a profunda sabedoria, que pertence ao nosso Eu evolutivo, está esperando a evocação desde a aurora da grande jornada evolutiva. O Senhor Cristo, em Sua prece antes de Seu julgamento e crucificação, fala a Seu Pai sobre a 'glória que tive junto de Ti antes que houvesse mundo'. São Paulo fala daquele que nos chamou com uma santa vocação... conforme sua própria determinação e graça... antes que o mundo começasse (II Timóteo, 1.9). 

Diz H. P. B. que a semente dessa sabedoria divina foi implantada nas almas nascentes dos homens pelos Dhyan Chohans no alvorecer da evolução. Ela cita as palavras do velho mestre Aryasangha: 'Aquilo que não é nem Espírito nem Matéria, nem Luz nem Trevas, mas é verdadeiramente o receptáculo e raiz de tudo isso... Tu és isso... a Luz-Vida se derrama para baixo pela escadaria dos sete mundos, escadas cujos degraus vão se tornando cada vez mais densos e cada vez mais escuros. É dessa série sete-vezes-sete que és o fiel escalador e espelho, ó homem pequeno!. És isto mas não sabes'.²² (...)"

"(...) Somente o homem, em toda a criação, tem o poder de ficar face a face com Deus, porque tem em si uma fagulha, um germe da Vida Eterna e da Consciência do Universo. 'O Princípio que dá a vida mora em nós e fora de nós, é imortal e eternamente beneficente, não é ouvido, não é visto, não é cheirado, mas é percebido pelo homem que deseja percepção'. ('As Três Verdades'). 

Este Caminho ascensional é também apreciado com grande beleza pelo Mestre K. H. numa carta à senhora Francisca Arundale: 'Filha de sua raça e de seu tempo, apodere-se da caneta de diamante e escreva nas páginas de sua vida uma história de ações nobres, de dias vividos corretamente, de anos de esforço devotado. Assim você abrirá seu caminho sempre para cima, para os planos superiores da conciencia espiritual. Não tema, não desanime, seja fiel ao ideal que agora só pode ver vagamente'²³. Com o progresso lento no caminho a idéia e a visão vão-se tornando mais claras e mais fortes. O Mestre K. H., numa carta a outra senhora (no mesmo livro)²⁴, diz: Pouco a pouco sua visão ficará clara, você descobrirá que as névoa se dissipam, que suas faculdades interiores se fortalecem, sua atração para nós ganha força e a certeza toma o lugar das dúvidas'. 

O Antahkarana, a 'ponte', uma vez formada, permitirá à inteligência transferir-se da mente do pensamento concreto comum para o plano mais elevado, para a mente mais divina. Este é o 'Filho de Deus', o espírito de Cristo em nós. Além está o plano da Consciência Divina universal e eterna, mas primeiramente, deve-se atingir a consciência de nosso próprio Ego mortal. Através dele chegamos a Deus, a Vida Divina. Isto é simbolizado pelo Senhor Cristo quando diz, identificando-se com o Eu Divino em todos os homens: 'Eu sou o caminho, a verdade e a vida; nenhum homem chegará ao Pai senão por mim'. 

Diz H. P. B.: 'Nenhum degrau da escada que vai ter ao conhecimento pode ser omitido. Nenhuma personalidade pode atingir ou entrar em comunicação com Atma (Divindade) a não ser através de Budhi-Manas (nossos Egos divinos)'.²⁵ 

A Consciência do Eu Superior, uma vez atingida, ilumina e inspira a consciência humana inferior. Certamente, é como foi dito anteriormente, todo o propósito da evolução assim fazer, mas antes que a 'Graça de Deus' possa descer e se apossar de nós, devemos, para que isso seja possível, empenhar todos os esforços. A este respeito H.P.B. cita a Cabala: 'Todas as criaturas no mundo tem alguém que lhes fica acima. Este superior tem o prazer interior de esparzir sobre elas seus eflúvios, mas não pode fazê-lo enquanto elas não o tenham adorado' (isto é, meditando como se faz no Yoga)."

¹⁹.A Doutrina Secreta, cap. III, Ed. Pensamento, São Paulo. (N.E.)
²⁰.A Doutrina Secreta, cap. III, Ed. Pensamento, São Paulo. (N.E.)
²¹  Ed. Teosófica, 2011, pp 52-53. (N.E.)
²² A Doutrina Secreta, Vol. III, Ed. Pensamento, São Paulo. (N.E.)
²³ Cartas dos Mestres de Sabedoria, comp. C. Jinarajadasa. Ed. Teosófica, Brasília, 2011, p. 67. (N.E.)
²⁴ Ibidem, p. 146 (N.E.)
²⁵ A Doutrina Secreta, Vol. III, Ed. Pensamento, São Paulo. (N.E.)

(Clara Codd - A Técnica da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 75/76)


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